A cultura e os objetos audivisuais
Produção audivisual, cinema e comunicação empresarial foram os temas em discussão no III Ciclo de Debates Mídia e Sociedade, promovido pelo POSCOM. As palestras ocorreram na sexta-feira, dia 18 de março. Pela manhã, quem falou para um auditório H lotado de estudantes da graduação, da pós e docentes foi o professor Paulo Carneiro da Cunha Filho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Cunha Filho, que veio para a banca de defesa de dissertação de Fabiano Maggione, apresentou a pesquisa sobre a história do audivisual em Recife entre os anos 1850 e 1930. Seu objetivo foi verificar as formas de apropriação de instrumentos técnicos de produção visual (foto e cinema) na Recife desta época. O desafio da pesquisa, conforme ele, foi dar conta das questões culturais e das especificidades narrativas dos objetos visuais. O trabalho aborda desde os chamados daguerreótipos, os antigos retratos de família, até os portraits da burguesia e dos escravos até a produção cinematográfica. Como contextualização do desenvolvimento dessa visualidade, a destruição do Bairro de Recife, nos anos 20, para construção de prédios mais arejados e avenidas maiores, aparece como dado importante pois em virtude da transferência de investimentos para o Sudeste, os governos pernambucanos começam a produzir fotografias e filmes da cidade para mostrar o processo de modernização que estava em curso. Para exemplificar os objetos de pesquisa, o pesquisador da UFPE exibiu trechos do filme A Filha do Advogado, produzido em 1926. O filme de gênero melodramático mostra imagens de uma Recife pretensamente moderna. Planos que mostram fios elétricos e bondes sinalizam para a intenção de mostrar uma cidade moderna, apesar dos seus claros traços provincianos. O professor chama a atenção para a importância de um outro olhar sobre o filme, que produz efeito cômico apesar da narrativa trágica a que se propõe. "É preciso considerar o filme a partir de múltiplas perspectivas, multi pontos de fala, ver certas coisas e não outras. Notar mais o que o filme não mostra".
Para desenvolver a pesquisa, Cunha Filho se utilizou das seguintes referências:
-Semiologia. Christian Metz e Dominique Chateau. O valor interno dos objetos audivisuais; um olhar de atenção sobre as imagens.
-História. Marc Ferro e Michel de Certeau. O valor contextual dos objetos audiovisuais.
-Marxismo. Kosta Axelos e Walter Benjamim. O valor material e a subjetividade dos objetos audivisuais. A materialidade que produz sentidos.
A importância dos ativos intangíveis
À tarde, depois de participar da banca de defesa da mestranda Patrícia Pérsigo, o professor Wilson Bueno, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) falou sobre "Comunicação Emprelarial: tendências e desafios". Bueno falou sobre o novo discurso ou a nova proposta de inserção social das empresas: a chamada sustentabilidade.
Bueno chamou a atenção para o novo mercado de trabalho na área da comunicação com a Geração Y ocupando 25% dos postos de trabalho. A presença das organizações nas redes sociais também foi destacada por ele. Bueno criticou as empresas que estão nas redes sociais e reconhecem a importância disso, mas, ao mesmo tempo, proibem que seus funcionários estejam nestas redes em seus ambientes de trabalho. "Estamos na era dos ambientes de trabalho saudáveis e criativos que explorem as potencialidades das redes sociais. Mas esta infelizmente não é a realidade que temos por aqui", constata. Outra crítica foi feita a pressão crescente por resultados e a desconsideração das organizações pelos ativos intangíveis, os processos imateriais que não podem ser medidos em números. "A comunicação nas organizações tem singularidades e as formas de mensuração devem ser diferentes".
Aspectos que caracterizam a comunicação nas empresas hoje:
- crescente vigilância do consumidor. As organizações não devem agir mediante pressão somente dos consumidores conectados, pois isso exclui os direitos de quem não tem acesso a estes instrumentos.
-Importância da gestão do conhecimento e da diversidade corporativa. O compartilhamento de informações e experiências.
-O ativismo dos ''stakeholders''. Um banco de dados inteligente é diferente de um banco de dados com muita gente
-Ruptura dos conceitos tradicionais de tempo e espaço.
-Valorização dos ativos intangíveis. A marca, a cultura e a reputação como patrimônios.
-A segmentação dos mercados e da comunicação
-A defesa intransigente da identidade
-O embate entre o local e o global- Glocalização.
-O fenômeno da cauda longa (conceito de Chris Anderson). O valor das pequenas coisas, blogs, tiragens reduzidas, tribos.
Por fim, Bueno falou da necessidade das empresas possuirem uma comunicação efetivamente integrada, com profissionais da publicidade, do jornalismo e das relações públicas trabalhando no planejamento e execução dos processos comunicativos.
Além disso, as redes e as mídias sociais são realidades incontestáveis e as organizações estão sendo desafiadas a conviver com elas a partir de uma perspectiva mais inteligente.
O professor Wilson Bueno pode ser contato pelo email wilson@contexto.com.br.